O Desarmamento é uma farsa


Por Alailson Muniz
A política de desarmamento da população brasileira é uma resposta ao clássico anseio da incompetência do Estado com a segurança de seu povo e o medo de, por meio dessa incompetência, movimentos insurgentes venham a esboçar qualquer tipo de reação com uma futura ocupação, para não dizer invasão, internacional. É uma medida verticalizada, imposta de cima para baixo com o conluio de organismos internacionais.
No quadro nacional, o referendo não passa de uma maquiagem política que vai tentar esconder uma realidade assustadora de elevados índices de violência. Violência essa, ocasionada por uma inoperância estatal e pelo reducionismo dos investimentos em setores que influenciam no comportamento e no desenvolvimento cultural de um povo como a educação, saúde, saneamento e distribuição de renda. Esse quadro dá ao Brasil o segundo maior índice de desigualdade social do mundo. Portanto, é um problema estrutural, que, indubitavelmente, não será resolvido com a proibição do comércio de armas de fogo e munição.
A decisão referendada não vai desarmar os verdadeiros criminosos, não atendendo a verdadeira razão pela qual será realizado. Para a pessoa que porta uma arma para praticar um assalto, não importa para ela se o simples fato de portar a arma é proibido, porque a arma irá atender apenas a um meio, o fim será o assalto que também já é proibido. Portanto, não adianta proibir o porte. Devem-se criar condições para que a arma não seja utilizada. E isso exige conscientização através da educação e emprego. Só que para se fazer isso, o Estado terá de cumprir com suas obrigações constitucionais e redirecionar suas ações para os setores sociais. Essa alternativa vai de encontro com a política de desvinculação de verbas sociais para o setor financeiro, ditada pelo Fundo Monetário Internacional.
A ineficácia da medida, ou a farsa como prefiro dizer, está evidenciada no fato de que os próprios políticos que a defendem permanecerão armados. E das poucas pessoas que poderão adquirir uma arma, 99,99% pertencerão à classe alta, à elite do país. Ora, porque não se desarmam também? Elas sabem que o crime não está condicionado ao simples fato de se portar uma arma de fogo. Hoje em dia, mata-se mais com atropelamentos.
Assim como a faca foi criada para ser um utilitário doméstico, o revólver era apenas um artigo de esporte. Participo da tese do intelectual santareno Aluízio Leal, de que durante a Ditadura Militar, quando as armas de fogo e as munições eram vendidas livremente, os índices de morte por armas de fogo, com exceção das mortes produzidas pelos militares, eram muito menores do que os de agora, quando elas já estão praticamente "banidas". Aluízio atribui o desarmamento a uma crise social, a qual o Estado não consegue resolver e se esquiva. Pois, no autoritarismo repressivo do Estado, o povo sempre é visto como inimigo.
Podemos usar a Inglaterra como modelo para derrubar a tese de que o desarmamento irá reduzir a violência praticada por armas de fogo. O governo inglês, ao menor sinal de instabilidade política, como ocorre agora aqui no Brasil, tratou de desarmar sua população. Quatro anos após a medida, os índices de violência praticada por armas de fogo aumentaram em 500% segundo pesquisas encomendadas pelo próprio governo. O Brasil tende a seguir essa linha ou a ser pior, após o referendo.
O emocional vai falar mais alto mais uma vez. Como em todas as decisões tomadas em urnas aqui no Brasil. A própria Rede Globo colocou todo seu elenco a disposição da campanha do "Sim" para convencer a população a votar na proibição.
Ao contrário do que se pensa o mercado paralelo de armas, comandado em sua maioria por uma leva de políticos, como ficou evidenciado pelos grupos de extermínio encontrados pela policia federal no parlamento, irá lucrar de maneira descomedida com a proibição, que elevará o preço da arma até trezentos por cento pelo menos. É na proibição que está o verdadeiro interesse econômico e ideológico da elite corrupta do país.

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