Crise entre México e Venezuela expõe embate ideológico na AL




Por Adriana Barrera
CIDADE DO MÉXICO (Reuters) - A crise diplomática entre o México e a Venezuela expôs um choque de ideologias na América Latina, região que está tendendo à esquerda e quer se livrar da influência dos Estados Unidos, afirmaram analistas.
México e Venezuela, que junto com a Colômbia formam o Grupo dos Três, retiraram seus respectivos embaixadores há uma semana, depois de uma troca de acusações que teve início nos debates sobre a Alca (Área de Livre Comércio das Américas) na Cúpula das Américas.
Os analistas afirmam que o tom das declarações já está se acalmando e que a crise esfriará antes que os dois países rompam relações, mas a discussão sobre os destinos da América Latina persistirão.
"O que Chávez está fazendo não é apenas a busca de uma integração dentro da Venezuela, mas também de uma integração ideológica de vários países da América Latina, que nos últimos anos se voltaram para governos de esquerda", disse à Reuters o analista Jorge Schiavon.
"É fácil ver no México um país que representa os interesses do 'império', isto é, dos Estados Unidos, por ter um governo de centro-direita", acrescentou Schiavon, secretário-geral do Centro de Investigação e Docência Econômica.
Brasil e Argentina estão entre os países que adotaram governos de esquerda. O Uruguai somou-se a eles, e o Chile deve manter seu governo de centro-esquerda depois das eleições de dezembro. Há ainda Cuba, aliada da Venezuela.
Em 2000, o presidente do México, Vicente Fox, encerrou sete anos de hegemonia do PRI, levando a direita ao poder. Especialistas, porém, afirmam que os problemas de sua administração podem acabar dando uma oportunidade ao ex-prefeito da Cidade do México, o esquerdista Andrés López Obrador, que vem liderando as pesquisas de opinião há meses.
O presidente venezuelano, Hugo Chávez, chamou Fox de "filhote do império" por sua ferrenha defesa da Alca na Cúpula das Américas.
O Mercosul e a Venezuela posicionaram-se contra o reinício das negociações para criar a área de livre-comércio, opondo-se aos outros 29 países do continente.
Chávez afirmou que apenas respondeu às declarações de Fox, que chamou a posição do venezuelano de "pouco apegada à realidade".
O presidente da Venezuela, que diz estar criando em seu país o novo socialismo do século 21, culpou no sábado os EUA pela crise com o México, mas insistiu que a solução depende de Fox.

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