Então tá...

Claudia Spessatto*

A pizza está pronta. Até a oposição ao Lula já está pensando em acordar com a tese de que nada houve de ilegal neste e em outros governos. Não existiu dólar na cueca, não teve mensalão e, quanto ao caixa dois, todos concordam que são praticamente legais esses costumes. Todos se encontram no mesmo túnel, que é o único caminho que leva à eleição e ao poder. Historicamente, o povo brasileiro vem sofrendo achaques dos seus políticos.

Desde a descoberta desta terra, ingleses e portugueses, seguidos posteriormente por americanos e chineses, vêm fechando acordos confortáveis com os nossos governos tão desapegados e privados de ambição. Dom João VI, em sua desabnegada chegada à colônia, trouxe consigo a política praticada até hoje de vender, total ou parcialmente, os bens desta Pátria, incluindo aí população, trabalho e futuro desta terra de ninguém, que ninguém ama e ninguém protege.

Antigamente, pelo menos, tínhamos a desculpa de não tomarmos conhecimento dos fatos. Hoje, no entanto, com o advento da televisão ao vivo e da internet, foi-nos arrancado o direito de ignorar as questões e concluir inteligentemente sobre os acontecimentos que afetam a vida de todos os brasileiros. Assisto, com tristeza, aos políticos tecerem argumentos absolutamente irreais para um povo morno e apático, que pouco faz em protesto ao assalto que está sendo vítima e caminha tranqüilo para as urnas que confirmarão, mais uma vez, o seu próprio mau-caratismo.

Está instituída nacionalmente a lei do não pagamento de impostos. Por que deveríamos, se nem o presidente em sua campanha se preocupou com isso? Caixa dois significa, nada mais nada menos, do que sonegação de tributos, na melhor das hipóteses. Na pior, trata-se de acordos subterrâneos para distribuir dinheiro ilegalmente e garantir a manutenção de governos corruptos.

Assassinatos estão liberados também. Por que se preocupar com uma Justiça que demora no julgamento e, quando chega a alguma conclusão, esquece-se de verificar os principais indícios criminosos. As investigações atuais do extermínio de Celso Daniel comprovam que, neste país, podemos praticar impunemente a lei do mais forte, que age livremente na guerrilha selvagem dos lucros a qualquer custo.

A palavra aqui nada vale, e o antigo fio de bigode, neste país, atende apenas à confirmação de negócios escusos, que servirão estritamente para beneficiar um pequeno grupo. Promessas não precisam ser cumpridas, este povo não tem memória e, se lembrar de algo, perder-se-á no teor de novos discursos.

Nada será cobrado, fiquem tranqüilos. Compromisso aqui não é levado a sério. Caráter, ética e bagagem de vida não duram mais do que alguns dias na lembrança dos cidadãos. A próxima notícia exime a última e as urnas aguardam ansiosas o voto dos desmemoriados brasileiros, que marcham como gado para a
sua próxima degola.

Preocupem-se, políticos do Brasil, apenas com os seus bolsos. Logo mais, teremos de volta os Severinos e os Jeffersons para legislarem em causa própria e rirem dos seus eleitores. Fiquem tranqüilos, políticos brasileiros, quanto aos desígnios deste país. Nada disso importa. A população seguirá, ainda por muitas décadas, vivendo sua vidinha hipócrita e ignorante, achando que tem a sorte de viver no país do futuro.

* Claudia Spessatto, natural de Uruguaiana (RS), é jornalista e artista plástica. Atua profissionalmente em Brasília, no Congresso Nacional, desde 1982.

Comentários

Anônimo disse…
Muito bom ter conhecido alguem como vc interessado pelo que acontece no mundo.
espero aprender muito com nossa amizade!
Anônimo disse…
Muito bom ter conhecido alguem como vc interessado pelo que acontece no mundo.
espero aprender muito com nossa amizade!