O monopólio do silêncio

Por Gustavo Barreto, 4/11/2005

Atenção, silêncio na platéia. Câmera... luz... ação! Entra ACM Neto no ar, para todo o Brasil, uma vez por hora nas TVs Globo e Globonews. Na edição do JORNAL NACIONAL de quinta (3/11), o bloco era quase todo dele. Microfones, câmeras, holofotes: o homem está sendo perseguido! O show, afinal, não pode parar.

Longe dos holofotes, a vida real. Enquanto a mídia faz escândalo pelos R$ 55 milhões do “valerioduto” e supostos grampos em gabinetes, um relatório do Tribunal de Contas do Estado (TCE) da Bahia aponta uma movimentação, entre 2003 e abril de 2005, de R$ 101 milhões em uma conta bancária não registrada no sistema de controle do Erário baiano. O TCE – o conselheiro Pedro Lino à frente – possui em mãos um relatório de 200 páginas sobre estranhas relações contratuais entre o governo baiano, a agência de publicidade Rede Interamericana/Propeg, do publicitário Fernando Barros, e organizações não-governamentais formadas por servidores públicos.

Conforme assinala a revista CARTA CAPITAL (edição 366 – 2/11/2005), que teve acesso ao documento, está no centro da investigação a Bahiatursa, estatal de turismo local subordinada à Secretaria de Cultura e Turismo estadual. Fernando de Barros é intimamente ligado ao clã dos Magalhães e ao PFL baiano, além de ser um campeão local de licitações. O relatório do TCE cita como exemplo de gasto não-discriminado os R$ 2,25 milhões da estatal de turismo em apoio à campanha da Rede Globo “Amigos da Escola”. CARTA CAPITAL relembra que a família do senador Antonio Carlos Magalhães é proprietária da TV Bahia, retransmissora da TV Globo no estado. Mantém, ainda, o jornal ‘Correio da Bahia’, panfleto político cujo objetivo é propagar os interesses do clã de ACM no estado.

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