Bolsa iraniana ameaça economia estadunidense


Por Alailson Muniz

No ano de 2000, um repórter britânico publicou uma matéria com a seguinte manchete, “Iraque migra para o euro”. Até então, nada de mais aos olhares dos pobres mortais. Mas imensamente preocupante para economia estadunidense.

Migrar para o euro significava dizer que o Iraque estava abandonando o padrão dólar e adotando o padrão euro em suas transações comerciais envolvendo o petróleo.

O Iraque fez isso quando o euro valia apenas US$ 0,83 e perdeu cerca de US$ 20 bilhões de seu fundo de reserva nacional. Até aí, tudo ótimo para os EUA. Mas o intenso fluxo de exportação e importação e a força política da União Européia rapidamente levaram o euro a crescer e em menos de um ano 01 (um) euro valia cerca de US$ 1,7.

O Iraque, portanto, recuperou seu prejuízo e ainda lucrou um montante de mais de US$ 50 bilhões, o que chamou a atenção de outros países da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo). Dentre os quais dois inimigos políticos dos EUA: Irã e Venezuela.

A singularidade do dólar (Petrodólares) obriga todos os países do mundo a manterem enormes estoques da moeda em suas reservas nacionais. Mais de 67% das transações comerciais internacionais usam o dólar como moeda padrão. Esse número sobe para 99% quando envolve o petróleo. Somente a Venezuela estava comercializando parte de seu petróleo sem usar o dólar. Por essas peripécias que os EUA conseguem manter, sem quebrar sua economia, uma dívida externa de mais de vinte trilhões de dólares.

Com a mudança para o euro, centenas de bilhões de dólares seriam despejados de volta nos Estados Unidos, esmagando a moeda verde e destruindo a sua economia. A guerra bélica contra Iraque e o Irã e a guerra político-ideológica contra a Venezuela representam a defesa do atual sistema global e a perpetuação da supremacia dos petrodólares frente a essa ameaça.

Para evitar o seu naufrágio em 2001, os USA invadiram o Iraque sob o pretexto da existência de possíveis armas nucleares. O mesmo também acontecerá com Irã. Na última segunda feira, 27, o Irã abriu uma bolsa de negociação de petróleo usando como moeda padrão de comercialização o euro.

Poucos meios de comunicação divulgaram o acontecimento. A seguinte frase de um intelectual inglês revela o desinteresse: “o esforço para manter a bolsa de petróleo do Irão afastada das manchetes tem sido muito bem sucedido. Uma simples pesquisa do Google mostra que nenhum dos grandes jornais ou redes de TV referiu-se à bolsa que está para iniciar”.

O próprio chefe do Banco Federal estadunidense, Paul Volcker, chegou a prever a ruína do dólar nos próximos cinco anos caso o euro viesse a concorrer em transações que envolvem o petróleo. Volcker disse também que um crash do dólar ocasionaria um efeito dominó nas economias do resto do mundo. O resultado seria o desemprego de mais de 200 milhões de americanos, fome e miséria generalizada.

Agora, antes de atacar o Irão, os EUA temem que países europeus (França e Alemanha) despejem bilhões de dólares em seus cofres numa tentativa de quebrá-lo.

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