Navio do Greenpeace bloqueia porto da Cargill, mas é expulso por sojicultores

Foto: Alailson Muniz
Por Alailson Muniz
Por volta das nove horas da manhã desta sexta-feira, 19, o navio Arctic Sunrise da ONG (Organização Não Governamental) ambientalista Greenpeace atracou no porto do terminal graneleiro da multinacional Cargill, em Santarém do Pará, numa tentativa de impedir o descarregamento de soja da empresa. Em ato sincronizado, outros cinco ativistas tentavam invadir a sede da empresa escalando as torres do terminal. Entre eles, Paulo Adário, coordenador da campanha da Amazônia da ONG.

Segundo o Greenpeace, três de seus integrantes foram feridos durante a tentativa de invasão. Uma ativista que caiu da torre, um outro que foi atirado na água por funcionários da Cargill e o seu fotografo que foi atingido por um tiro de rojão. A ONG informou ainda que 16 de seus ativistas foram detidos pela polícia, inclusive Waldemar Wichmann, capitão do Arctic Sunrise.

Ao lado do porto, foi se aglomerando uma multidão de sojicultores e empresários do agronegócio. Houve tumulto quando um casal de italianos tentou se infiltrar na multidão para assistir a cena. Os sojeiros os confundiram com membros do Greenpeace e ameaçaram agredi-los. Foi preciso a policia intervir para retirar o casal do local. Ao signatário deste blog, o casal disse que não possuí nenhuma ligação com a Ong e que “reservavam um compromisso com a Cargill”.

Enquanto isso embarcava a bordo do navio Arctic Sunrise, o Agrupamento Tático da Policia Militar. A confusão generalizou-se dentro da embarcação. Um grupo de sojeiros conseguiu invadir o navio e arrancaram faixas e bandeiras da ONG, mas logo foram retirados pela policia.

Em terra, outros sojeiros de plantão se organizaram e alugaram várias embarcações. O objetivo era invadir o navio do Greenpeace. O aparato das polícias militar e federal logo foi reforçado.

Com mais de cinco barcos e três lanchas, os sojeiros cercaram o Arctic Sunrise, que ainda estava atracado no terminal, e passaram a soltar fogos de artifícios em direção ao navio. O clima ficou tenso e outras embarcações engrossavam o contra-protesto. Enquanto isso, a policia federal fazia uma revista na embarcação de bandeira holandesa.

Sob o coro de “ Fora Greenpeace”, um rapaz pago pelos sojeiros, jogou-se no rio e nadou até a embarcação, conseguiu subir e arrancar uma faixa que continha o nome da ONG. A proeza lhe rendeu R$ 50,00. Na parte traseira do navio, ocupantes de uma lancha pichavam com spray e óleo queimado o casco da embarcação com as frases: “Fora Greenpeace”, “100% coca”, “maconheiros”, entre outras.

Simpatizantes dos sojeiros rasgam bandeira do greenpeace

Uma embarcação ainda chegou a encostar-se no navio para que os sojeiros o invadisse, mas foram impedidos por policias do Agrupamento Tático.

Com a demora da retirada do Arctic Sunrise do terminal, os sojeiros foram ficando ainda mais irritados com a ação da policia e passaram a ascender rojões e dispara-los em direção ao casco do navio. Um dos rojões atingiu o braço de um policial. O que fez com que um outro policial apontasse uma escopeta em direção a um dos barcos dos sojeiros.

“A gente está aqui para prender eles, mas vocês estão dificultando o nosso trabalho”, disse de dentro do Arctic Sunrise aos sojeiros o Capitão Mardock, chefe do Agrupamento Tático. Os sojeiros passaram cantar o hino nacional como forma de protesto.

Segundo André cunha, empresário do ramo do agronegócio, membro do movimento “Fora Greenpeace” e um dos coordenadores do contra-protesto, o que motivou a reação dos sojicultores foi a impunidade que existe em volta do que ele chama de “falta de respeito do Greenpeace para com os produtores que vieram de outras regiões e também ao povo de Santarém”. O empresário diz que o Greenpeace sempre fugiu de uma discussão democrática e que os sojicultores já o chamaram várias vezes para um debate. “Vamos perguntar a sociedade. Vamos fazer uma assembléia para ver isso. Vamos discutir. Vamos debater. Eles nunca quiseram discutir. Eles impõem o que eles querem e nunca cedem a contra-replica”, argumenta André.

Para os sojicultores, a política do Greenpeace defende o engessamento econômico da cidade e a miséria de sua população. “Será que todos que aqui moram têm de viver na miséria? Não precisam de estradas? Não precisam de recursos? Temos de incentivar o trabalho. Isso aqui é uma reação da população sobre essa palhaçada do Greenpeace. Eles estão com a autorização de quem aqui? Eles estão defendendo quem?”, argumentam os sojicultores.

Depois de quase quatro horas de seguidas tentativas de invasão do Arctic Sunrise, a policia federal conseguiu um rebocador para desatracar o navio e leva-lo para o meio do rio. Os sojeiros ainda esboçaram uma última tentativa. “Vamos invadir agora”, gritavam os mais exaltados.

Os barcos ainda tentaram impedir que o rebocador retirasse o navio do terminal, mas a Capitania dos Portos foi acionada para evitar que eles impedissem a manobra do rebocador.

Ás quatro horas da tarde, os sojeiros organizaram uma carreata que percorreu as principais ruas da cidade.

No domingo, dia 21, o Greenpeace realizará um ato em frente á Cargill. Os sojeiros acreditam que o ato não irá mais acontecer. Mas fontes de dentro do Greenpeace disseram a reportagem que nada foi modificado em relação ao ato do domingo, que será regado a muita comida regional. A policia teme um confronto direto entre os sojeiros e ambientalistas e reforçará seu contingente no dia.

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