Cargill declara moratória


Após intensa campanha do Greenpeace, a indústria de grãos anunciou hoje, no Brasil, uma moratória de dois anos para a soja proveniente de novos desmatamentos no bioma Amazônia. A iniciativa mostra que o comércio internacional da soja foi abalado pela publicidade negativa da crise ambiental da maior floresta tropical do planeta. O Greenpeace reconhece que este é um passo importante, mas são as ações e não as palavras que poderão garantir um futuro justo e sustentável para a Amazônia.

A campanha do Greenpeace incluiu ações diretas no Brasil e na Europa e a publicação do relatório “Comendo a Amazônia” (veja o sumário em português), que detalha os impactos negativos da expansão da soja na floresta. Após a publicação do relatório, redes de supermercados e fast-foods, como o McDonald’s, formaram uma aliança histórica com a organização ambientalista para exigir que a indústria da soja adote medidas para conter o desmatamento da Amazônia e trazer governança para a região.

Como resultado da pressão desta aliança, as multinacionais de commodities Cargill, ADM, Bunge, a francesa Dreyfus, e o grupo brasileiro Amaggi sentaram à mesa de negociações. Responsáveis pela maior parte do comércio de soja no Brasil, as traders discutiram critérios propostos pela aliança para fortalecer os esforços do governo brasileiro contra o desmatamento, além do cumprimento às leis brasileiras e proteção das áreas de florestas sobre grande pressão, terras indígenas e povos tradicionais.

Como resposta, as duas associações de grãos no Brasil – Abiove (Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais) e Anec (Associação Nacional dos Exportadores de Cereais) assinaram hoje um comunicado anunciando uma moratória de dois anos em novos desmatamentos para a soja (leia comunicado da Abiove). Um grupo de trabalho será estabelecido, formado por traders, produtores de soja, ONGs e governos federal e estaduais para apresentar um plano de ação que traga governança para a região.

O Greenpeace defende que a moratória deve durar o tempo necessário para que medidas sejam implementadas, ou a iniciativa anunciada hoje corre o risco de ser pouco mais do que um gesto simbólico. Nos últimos anos, mais de 1 milhão de hectares de florestas foram convertidos em campos de soja na Amazônia. Áreas desmatadas ilegalmente são alvo de violentos conflitos entre fazendeiros e comunidades locais. A floresta vem sendo destruída para dar lugar a campos de soja, que é exportada para a Europa para alimentar animais e atender a demanda internacional por proteína e carne barata.

“O papel das empresas de alimentos que vendem produtos relacionados diretamente com o desmatamento na Amazônia foi fundamental para trazer as grandes traders de soja para a mesa de negociações. Agora, o desafio é para que o setor promova os resultados reais para proteger a Amazônia da destruição”, disse Gerd Leipold, diretor-executivo do Greenpeace Internacional.

A Amazônia não é apenas a região de maior biodiversidade no planeta, mas também desempenha papel fundamental no equilíbrio climático e na vida de milhares de pessoas que vivem na região. Por causa dos níveis alarmantes de destruição florestal provocada pelo plantio de grãos como a soja, uma área de florestas do tamanho de cinco campos de futebol tem sido destruída a cada minuto nos últimos dez anos.

O diretor-executivo do Greenpeace no Brasil, Frank Guggenheim, disse: “É um passo importante das traders de soja, como o grupo Amaggi e a Cargill, mas vamos continuar pressionando por medidas efetivas que garantam o futuro da Amazônia e de seus povos. Disputas pela terra e pelos recursos florestais não destruíram apenas grandes áreas de floresta mas também sacrificaram muitas vidas. A indústria de soja que opera na região deve agora ajudar a trazer governança e proteção ambiental para toda a região”.

Ao exigir a proteção da Amazônia, o Greenpeace e as empresas de alimentos continuam exigindo de seus fornecedores soja não-transgênica.

Comentários

Anônimo disse…
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