A bobagem

São Paulo, domingo, 06 de agosto de 2006

SERGIO COSTA

Magia cubana

RIO DE JANEIRO -

Cuba é a Disney da esquerda. A ilha da fantasia não-capitalista está ali há meio século para o mundo ver como seria se a história fosse outra. Não é à toa que tanto atrai para férias órfãos brasileiros de sonhos e utopias dos anos 60/70. Se Cuba é a Disneyworld, Fidel tem a força midiática do Mickey para o parque temático socialista -o mestre de cerimônias vestido como um eterno guerrilheiro. Ele representa a sobrevida de Ernesto Guevara, a perpetuação do mito revolucionário, a barba à prova das giletes multinacionais. O fim da era Fidel põe Cuba numa encruzilhada. Qual de suas vocações para "Disney" triunfará? A socialista, que revela em "estado bruto" um país que adentrou o século 21 na periferia do desenvolvimento, quando até a China fez reformas para se adaptar à demanda de novos tempos? Ou a Cuba escapista e decadente das praias de Varadero, com mar paradisíaco e hotéis permissivos ao turismo sexual que atrai dólares por fora para os "mouros y cristianos" de cada dia? Um dilema real, já que na ilha onde todos têm direito a educação, boa saúde, dentes bonitos e acesso aos esportes, também faz falta a simplicidade de bons cadernos, canetas, creme dental, xampu e tênis para saltos um pouco mais altos. Sem Fidel, muitos empresários estrangeiros no país já previam, desde o início da década, que Cuba voltaria a ser uma ilha do Caribe como outra qualquer. Menos carismática, mais caricata no começo, até ser engolfada pelo capital global. A semente já estava plantada por grandes grupos hoteleiros europeus, sócios minoritários do Estado nos "resorts all inclusive" do balneário, onde impera a lei do rum. Para eles, a verdadeira vocação cubana seria a de um balneário para turistas de países ricos. Lá, já se vive assim no mercado paralelo. "É a magia!", diria o Mickey.

Comentário

Nunca deixo de me espantar com críticas a Cuba como as de Sergio Costa (Magia Cubana, 6/8, A2), que reclamou da existência de "hotéis permissivos ao turismo sexual" naquele país como se isso fosse decorrência do socialismo. Chega a ser ridículo que alguém de um país em que a prostituição arrebata legiões de crianças e adolescentes acuse Cuba de "decadente" apenas porque lá mulheres adultas se prostituem como em qualquer parte do mundo. E o pior é que Costa não se contenta com tal absurdo e ainda reclama da falta de "bons cadernos, canetas, creme dental, xampu e tênis" em Cuba. Sim, esses itens o Brasil oferece em profusão - para quem tem como comprá-los. Em Cuba não há "bons cadernos", seja lá isso o que for, mas há ótima educação.
Com tantos "bons cadernos" que temos por aqui, nossos jovens - inclusive os mais ricos, que estudam em escolas só para ricos - não chegam aos pés dos jovens cubanos em termos de desempenho escolar. E apesar da grande oferta de cremes dentais que há neste país, a dentição, ou melhor, a saúde em geral do nosso povo não chega aos pés da dos cubanos. Pelo contrário, enquanto Cuba dá tratamento médico de altíssima qualidade a 100% do seu povo, uma maioria imoral de brasileiros agoniza no chão das pocilgas que chamamos de hospitais públicos. A mim, portanto, o país "decadente" não parece ser Cuba...

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