Descaso mata índios em Jacareacanga


(Alailson Muniz/Agência Amazônia) -
Desde janeiro deste ano, 18 indígenas morreram em Jacareacanga, sudoeste do Pará, por suposto descaso dos órgãos que tratam da saúde indígena no município - a Fundação Esperança e a Fundação Nacional de Saúde (Funasa). A denúncia é do vice-prefeito do município, José Xicri, um índio. Jacareacanga foi fundado em 1993, tem área total de 53.531,5 km² e população de 31.661 habitantes, mais de 60% indígenas, segundo o último sendo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).







Xicri acusa a Funasa e a Fundação Nacional do Índio (Funaí) de omissão nas mortes dos indígenas, que em sua maioria são crianças. 'Falta medicamento, por isso nosso povo está morrendo', sentencia. A maioria dos índios do município é da etnia Munduruku, mas existem também Kaiab e Apiacá. A causa principal das mortes tem sido a meningite.



No próximo dia 27, está prevista uma reunião na cidade com o presidente da Funasa e representantes da Funai. 'As nossas principais reivindicações estão pautadas em reverter o alto índice de mortalidade indígena que assombra nosso povo', explica Xicri. 'Na pauta da reunião figuram discussões em torno da falta de medicamentos para os munduruku, microssistema de abastecimento de água, que não está funcionando, a remessa de medicamentos para as farmácias básicas dos pólos, que não veio até hoje, construção dos postos de saúde, da Casa de Saúde, transporte para atendimento dos doentes, treinamento antropológico para os técnicos de enfermagem, estrutura dos pólos, falta de comunicação entre Fundação Esperança, a Funasa, conselheiros e lideranças, compra de mosquiteiros e atraso do repasse do recurso de Brasília para Fundação Esperança em Santarém', listou o líder indígena.







Em uma reunião na semana passada com representantes locais da Funai, Funasa e Fundação Esperança foram debatidos os problemas das aldeias e feito o levantamento de possíveis soluções. Também foi apresentado um documento com várias reivindicações. 'Mas até hoje nenhuma foi cumprida e os índios continuam doentes', lamenta Xicri.





No Hospital Municipal de Jacareacanga, existem várias crianças indígenas hospitalizadas com desnutrição. A situação continua grave: as crianças que estão recebendo atendimento no hospital deveriam estar na Casai (Casa do Índio), em convalescença, onde não há sequer leite para alimentar os doentes.







Segundo os indígenas, no ano de 2005, um convênio que administrava a verba para tratamento da saúde dos índios passou da Prefeitura de Jacareacanga e para uma instituição particular, a Fundação Esperança. Os índios alegam que desde aquele ano os problemas começaram. 'Não tem estrutura nos postos de saúde. Então, o índio vai para a cidade, mas já chega lá quase morto', denuncia o cacique Antônio Cosme Munduruku.
Ele diz que seu povo está disposto a colocar na 'gaiola' os representantes da Funasa e da Funai caso não seja solucionado os problemas nas aldeias.

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