Índios fecham Santarém-Cuiabá e paralisam obra da hidrelétrica Curuá

Altamira
Alailson Muniz
Agência Amazônia


Até o final da noite de ontem, cerca de 150 índios das etnias Baú, Mecronotire e Piracanú mantinham bloqueada a rodovia Santarém-Cuiabá (BR-163) - no quilômetro 878 -, região do município de Altamira, no oeste do Estado. Eles fizeram uma barreira com pedaços de paus e toras de árvores e em seguida atearam fogo. Até o início da madrugada, aproximadamente 35 caminhões já estavam parados, formando uma imensa fila. Os indígenas também paralisaram as obras de construção da hidrelétrica de Curuá, que fica a 50 metros da margem da rodovia.

'Eles chegaram de forma pacífica e pediram para a gente paralisar as obras e que ficássemos sem falar com ninguém da imprensa', disse João Carlos, que presta serviços à empresa Curuá Energia.

Os índios vararam a madrugada reunidos com diretores da Curuá, mas até o fechamento desta edição não haviam chegado a um consenso. Os caciques não falam com a imprensa e proibiram também os funcionários da Curuá de dar declarações. O município mais próximo é Altamira, distante mais de 1.100 km. O distrito de Castelo dos Sonhos é a comunidade mais próxima, aproximadamente 45 km. As informações são repassadas através de um 'orelhão' que fica em frente a um ponto de ônibus localizado a 50 metros de onde os índios estão acampados. 'A distância e o isolamento contribuem para que a situação não seja resolvida logo', lamenta João Carlos. Ele disse ainda que durante todo o dia não apareceu nenhum policial no local. 'Graças a Deus, os índios estão calmos e os caminhoneiros não estão aborrecidos. Senão haveria confronto', diz João.

O bloqueio da rodovia é por tempo indeterminado. Os diretores da Curuá fizeram uma proposta de levar os indígenas à Brasília para negociar diretamente com o governo federal a questão de infra-estrutura de estradas, educação, saúde, energia elétrica e demarcação de terras, suas exigências. 'Mas os caciques estão desconfiados e querem garantia de que se forem à Brasília irão conseguir seus objetivos', diz João. Os índios também proíbem qualquer 'branco' que não seja diretor da Curuá de participar das reuniões. Algumas informações vazam por parte de alguns caciques mais velhos e de comentários de funcionários da Funai que estão no local.

Enquanto a situação não se resolve, os alguns caminhoneiros temem perder suas cargas. O caminhoneiro Edson Furtado informou que a maioria dos caminhões está carregando madeira, por isso não houve reclamação. 'Quando chegarem os carros com mercadorias perecíveis, o negócio vai pegar, porque eles não vão poder ficar muito tempo parados', diz Edson, que acredita na boa vontade dos índios de liberarem as cargas até amanhã.

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