FDA diz que saída de Cohenca foi uma “arapuca”

A Frente em Defesa da Amazônia divulgou carta em que repudia a exoneração de Daniel Cohenca da gerencia executiva do Ibama em Santarém.

O documento foi entregue ao presidente do Ibama, Roberto Messias Franco.
Leia abaixo a íntegra do documento:



Prezado presidente do IBAMA - sr. Roberto Messias Franco - Enviamos esta carta aberta ao sr. como também estamos enviando a outros e à imprensa nacional. Ela manifesta nossa indignação com forma de essas autoridades manipularem a administração pública, visivelmente submissa aos depredadores da Amazônia. Armaram uma arapuca ao jovem idealista Daniel Coenca, como armaram ao Paulo Meier e ao Nilson Vieira. Mas saibam que nem todos os amazônidas engolem essas maracutaias oficiais. Pode publicar esta carta aberta no mural de seu escritório, se for conveniente, ao menos para saberem que na Amazônia há grupos e pessoas conscientes de que estamos mal administrados e os impactos da degradação ambiental e social tem um preço caro, nossos povos e nossa floresta. Cordialmente,

Carta aberta de desagravo e repúdio pela exoneração sumária do gerente do IBAMA em Santarém

Frente em defesa da Amazônia – dezembro de 2008

No contexto político e econômico que vivemos nenhuma investida do Estado será para atender os interesses do povo brasileiro. Muito pelo contrário, as investidas sempre serão usadas para impedir qualquer avanço dos movimentos populares organizados.

A afirmação parece dura, mas a realidade é essa. As relações fisiológicas entre os que detêm o poder econômico em nosso país, e a grande maioria daqueles que ocupam cargos públicos na estrutura do Estado justifica todas as tomadas de decisão para a Amazônia.

No último dia 27 de novembro, aconteceu em Santarém um desses exemplos, de como se atende aos interesses de grupos econômicos em detrimento dos interesses do povo. A demissão sumária do então gerente do IBAMA em Santarém, Daniel Cohenca, contrariou os movimentos populares da região comprometidos com a defesa do meio ambiente e das culturas do povo da Amazônia. Não que o Senhor Daniel estivesse resolvendo todas as demandas existentes, mas porque durante o período que ocupou o cargo de gerente procurou atuar dentro de preceitos éticos e legais que o cargo exige. Enquanto ocupou a gerência permitiu aos movimentos sociais a oportunidade de realização de trabalhos em conjunto e o acesso a Instituição. Sempre mantendo abertura com organizações da sociedade.

Certamente, esta postura tenha sido o principal motivador das várias tentativas de tirá-lo do cargo. Seu empenho em realizar algumas fiscalizações demandadas por denúncias de populações tradicionais levou a grandes apreensões de madeiras que estavam sendo roubadas de nossas florestas. É notória a intervenção de políticos intermediando junto ao IBAMA para que não houvesse fiscalizações em determinadas madeireiras, pois isto atrapalhava certas campanhas eleitorais. Durante o período eleitoral de 2008, o governo do Estado chegou até mesmo a suspender o apoio da polícia militar nas fiscalizações. Tudo para impedir fiscalizações. Recentemente também foi descoberto que a prefeitura de Belterra autorizou licenças de desmatamento irregulares.

Demitir alguém que tentava realizar uma administração séria, não parecia uma tarefa fácil para aqueles que se sentiam incomodados pelas ações da gerência em Santarém. Assim, foram buscar uma desculpa que pudesse desmoralizar o então gerente. Acusaram o senhor Cohenca daquilo que ele mais lutou dentro da instituição, que eram as práticas de corrupção e desperdícios públicos. Sem nenhuma prova que o responsabilizasse, sua exoneração foi instantânea. Ora, se havia uma suspeita de irregularidade na gerência, o certo seria afastá-lo do cargo e proceder à investigação. Não foi o que ocorreu, mas sim a exoneração sumária. Na verdade, os lobistas do agronegócio irregular que atuam no governo poderiam não ter outra chance para trocar aquele gerente que os incomodava ou que não lhes obedecia.

Esta prática de pressão àqueles gerentes que colocam a Instituição pública a serviço da sociedade já é comum por aqui. Isto aconteceu com o senhor Paulo Mayer que foi transferido, Nilson Vieira que pediu afastamento e agora a demissão de Daniel Cohenca, todos essas pessoas que tentaram levar a sério a missão da Instituição. Se isto tudo não bastasse há a investida de chefões do IBAMA de reduzir as gerências em todo o Brasil em simples escritórios. Um sinal claro de evitar qualquer possibilidade de ameaça ao saque arquitetado pelos planos do governo. O exemplo mais próximo desta investida é o agora escritório de Altamira.

Esta nota não tem o único objetivo de denunciar a exoneração esdrúxula do senhor Daniel Cohenca, mas sim de denunciar as práticas sórdidas de pessoas que ocupam cargos públicos e utilizam os mesmos para atuar e defender interesses de grupos econômicos que historicamente vem destruindo a Amazônia e tornando sua população refém e miserável.

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