A minissaia e o embrião intelectual brasileiro

Platão nasceu por volta de 428/427 a.C.. Foi ele quem criou a ‘Academia’, considerada a primeira unidade de ensino superior do Ocidente.

Lá, entravam mulheres, mas elas tinham de se vestir como homens. Era assim que aprendiam.

Apesar da norma institucional, muito ligada à cultura local e à época, porém, não se tem notícia de que alguma dessas fêmeas tenha sido expulsa ou impedida de aprender e produzir conhecimento por causa de suas vestimentas.

Tá certo que na época de Platão não existia minissaia. Mas, os homens vestiam saias, e sem cuecas. Ou seja, para se vestir que nem homens e entrar na Academia, as mulheres tinham de usar saias.

Hodiernamente, também é na Academia (universidade ou faculdade como muitos preferem) que nasce a pesquisa, a leitura crítica, o questionamento, o saber. É lá que ocorre a gestação dos cérebros que vão reger um país, que vão ajudá-lo a se desenvolver.

O caso da acadêmica Geisy Arruda (foto), expulsa de sala de aula e da universidade, por trajar uma minissaia representa o retrato fiel do atual estado de nossas universidades.

Seus próprios colegas a chamaram de puta. No Brasil, a aluna que veste minissaia é puta e expulsa da Faculdade! Deduz-se, então, que puta não pode ingressar no ensino superior? É um preconceito expelido entre os dedos de um país adepto da cultura do “parece ser”. Se alguém perguntar se o Brasil é preconceituoso ou racista vão dizer que não, é claro. Mas esses episódios provam o contrário.

Aqui, quando se quer ofender uma mulher a chamamos de puta, uma mulher que ganha a vida oferecendo prazeres carnais em troca de dinheiro. Muitas levadas pelo prazer ou obrigadas pelo status quo de um país que arrota caviar e possui uma desigualdade social comparada a países como a de Serra Leoa, por exemplo.

Mas o debate que eu quero puxar é sobre como estamos formando os nossos cérebros? São esses universitários, incomodados com as pernas e a bunda de Geisy, que vão ser nossos cientistas, jornalistas, juízes, promotores, médicos, engenheiros e professores. São eles que vão ensinar nossos filhos e governar nosso país.

Então alguma coisa está errada em nossa educação. É triste pensar que a mentalidade que puniu de forma inquisitória Geisy, por extravasar sua sensualidade física, vai continuar a existir. E o que é pior, vai ultrapassar os muros da universidade de Bandeirantes (Uniban), porque eles (os acadêmicos) vão se formar e sair de lá.

A Uniban (como qualquer outra universidade brasileira) gesta o embrião da intelectualidade brasileira da qual Geisy foi vitimada. Não só a Uniban, mas outras centenas de academias, que envergonhariam Platão, se hoje fosse vivo.

As pernas e a bunda de Geisy despertaram os desejos mais intrínsecos da mente dos machos da Uniban, e inveja à mente de algumas fêmeas.

Fica o exemplo, para nunca mais ser repetido.
Viva à minissaia e à sensualidade feminina.

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