Repetidora da Globo, tevê dos Sarney potencializa o desgaste de Roseana



Josias de Sousa
Publicada dia 29/12

O império de comunicação da família Sarney tornou-se um privilégio de dois gumes. Afiliada à Globo, a TV Mirante, joia do conglomerado, vê-se na contingência de levar às residências do Maranhão o noticiário sobre a crise no sistema prisional do Estado. Uma crise que debilita a gestão da governadora Roseana Sarney (PMDB) na ante-sala de uma eleição em que ela vai tentar fazer o seu sucessor.

Para desassossego de Roseana, o caos que se estabeleceu no centro penitenciário de Pedrinhas, em São Luís, entrou na pauta de todos os telejornais da emissora —do Bom dia Brasil ao Jornal da Globo, passando pelo Jornal Nacional. Com isso, a TV Mirante, dos Sarney, virou a principal difusora no Maranhão das reportagens que roem a imagem da filha de José Sarney.

A novidade levou o governo a se mobilizar para tentar produzir contrapontos às revelações adversas. Na noite deste sábado (28), por exemplo, Willian Bonner leu no Jornal Nacional: “O Conselho Nacional de Justiça constatou que são 60 os presos assassinados no complexo penitenciário de Pedrinhas, no Maranhão, em 2013. Neste sábado (28) , a Polícia Militar assumiu a responsabilidade pela segurança do presídio.” Seguiu-se a exibição de uma reportagem de 2min45s.

Fenômeno nacional, a falência do sistema carcerário exige reformas lentas e profundas. Mas crises como a que acontece no Maranhão reclamam soluções emergenciais. Considerando-se o modo como se comportava antes de o CNJ intervir no tema, o governo maranhense parecia não dispor de solução. Pior: não enxergara nem o problema.

Pai da governadora, o senador José Sarney (PMDB-AP) valera-se do microfone da Rádio Mirante AM, outra emissora do império familiar, para dizer coisas assim: “Aqui no Maranhão, nós conseguimos que a violência não saísse dos presídios para a rua.” Afora o desapreço pelos direitos dos presos, Sarney parece ignorar um detalhe: não há no Brasil a pena de morte. Nem a prisão perpétua. Quer dizer: quem sobrevive à cana está condenado à liberdade. Tratado como bicho, o detento retorna ao meio-fio como fera.

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