Momento em que Santiago foi atingido. (Reprodução) |
A Secretaria Municipal de Saúde do Rio acaba de informar a
morte cerebral do cinegrafista da TV Bandeirantes atingido por um rojão em um
protesto no dia 6 de fevereiro. Santiago Ilídio Andrade, de 49 anos, faleceu na
manhã desta segunda-feira, 10. Ele estava internado no Centro de Tratamento Intensivo
(CTI) do Hospital Souza Aguiar, no centro, com afundamento de crânio.
Andrade estava em coma induzido desde que foi atingido por
um rojão de vara na cabeça. No mesmo dia, Andrade passou por uma neurocirurgia
para estancar o sangramento e estabilizar a pressão intracraniana. Além do
afundamento de crânio ele perdeu parte da orelha esquerda.
Ele faleceu nesta manhã e estava em coma induzido. Santiago
estava de costas para o artefato no momento da explosão. A impressa nacional
está de luto.
A mulher do cinegrafista da TV Bandeirantes Santiago Ilídio
Andrade, Arlita Andrade, fez um desabafo no domingo (9), em entrevista
exclusiva à TV Globo, e disse que "falta amor" nas pessoas
responsáveis por ferir gravemente seu marido, atingido por um rojão na cabeça
quando registrava, na quinta-feira (6), uma manifestação contra o aumento da
passagem de ônibus no Centro do Rio de Janeiro.
Andrade ajudou a criar os três filhos de Arlita e juntos
tiveram uma filha. Ela contou que o carinho que recebe da família tem ajudado a
enfrentar os momentos de aflição. As declarações foram dadas poucas horas
depois de ela ter visitado o marido no CTI do Hospital Souza Aguiar.
“Hoje [domingo], quando entrei, senti que ele não estava nem
mais lá. Ele não estava lá. Eu fiquei pensando, eu tenho que botar para fora,
tenho que mostrar que ele não pode estar indo embora em vão.”
A mulher do cinegrafista contou como soube que Santiago
havia sido ferido.
“Deu 20h45 [de quinta-feira], eu liguei e não foi ele que
atendeu. Eu falei: Santiago? Disseram: não, aqui é... falaram o nome do
cinegrafista. Falei: onde está o meu marido? Ele falou: está no Souza Aguiar, ele
levou uma bomba na cabeça e está em estado muito grave. Levei um susto e achei
que não tinha entendido. Eu falei: ele foi fazer alguma matéria sobre alguém
que levou uma bomba? A pessoa falou: não, foi ele mesmo", disse a mulher
de Santiago.
Arlita viu as imagens que mostram o marido sendo atingido
por um rojão e disse que tem recebido informações sobre a investigação
policial.
Meu marido está indo embora, eles destruíram uma familia.
Uma família que era unida"
Arlita Andrade,
mulher do cinegrafista Santiago Andrade
“Acho que esses rapazes que fizeram isso, eles não tiveram,
talvez, mães que não deram os ensinamentos que dei para os meus filhos. Como é
que a gente vai ter paz no mundo se a gente não ensina para os filhos da gente?
Então, isso é uma coisa que me deixou muito triste porque ele não merecia, é
uma pessoa muito boa. Ele procurava sempre ajudar todos”, disse.
Arlita disse ter visto a entrevista de Fábio Raposo, preso
no domingo (9) após confirmar em depoimento à polícia que passou o rojão para
outro homem responsável por acender o artefato em meio à manifestação.
“Eu vi ele pedindo desculpa, mas acho que o que falta neles
é o amor, o amor pelas pessoas, porque a gente não faz isso. Ele disse que foi
sem intenção. Que seja, mas meu marido estava trabalhando, estava mostrando uma
manifestação. Manifestação pode fazer, mas não precisa dessa violência.
Perdoar? Meu marido está indo embora, eles destruíram uma familia. Uma família
que era unida, muito unida mesmo. Os médicos disseram que o estado dele é
grave, disseram de manhã que teriam desligado os aparelhos porque estavam
somente aguardando ou milagre ou a morte cerebral”, lamentou Arlita Andrade.
De acordo com Arlita, Santiago fazia planos para a
aposentadoria. "Ele tem 49 anos, então tinha muita coisa pela frente. Ele
falou: quando me aposentar, você não vai mais trabalhar em creche, não. Você
vai ficar comigo para a gente aproveitar a vida. O que mais me deixou triste é
que ele estava fazendo trabalho para mostar para o mundo, ele não estava
fazendo um trabalho para ele, ele estava fazendo trabalhando para mostar para o
mundo e ele mesmo não vai ver", disse.
A mulher do cinegrafista fez um apelo para que, nas próximas
manifestações, as pessoas que participam dos atos pensem mais nas famílias.
"Eu peço que essas pessoas não sejam violentas, que não
façam isso. Isso não vai levar a nada. O nosso Brasil só vai ser mal visto,
ninguém vai querer olhar depois para a nossa terra. Eu espero que esses rapazes
pensem na mãe, pensem na família, que a família é tão importante. Meu marido
está indo embora, podem ser outros, pode ter outra família que pode ser
destruída com isso. Que eles façam uma coisa [manifestação] pacífica, porque só
sendo pacífica a gente consegue as coisas. Não adianta essa violência toda. Meu
marido é mais uma pessoa, mas não quero que o nome dele fique esquecido, porque
ele fez muito mostrando tudo, mostrando as misérias, mostrando tudo que
aconteceu no mundo, no Rio, nas tragédias, nos morros, nas manifestações. Ele
fazia tudo com maior carinho, tanto que mesmo caindo a gente nota [nas imagens]
que ele foi segurando a câmera. Meu marido está indo embora e não tem preço
para isso. Eu queria o meu marido, junto com a minha família. Era uma família
muito feliz”, finalizou Arlita Andrade.
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