Herman e Mendes: o justo e o corrupto. Vergonha. |
Por Bernardo Mello Franco - O TSE encontrou uma fórmula para salvar o mandato de Michel
Temer. Como não pode sustentar que a eleição de 2014 foi limpa, a corte decidiu
varrer a sujeira do processo. Para isso, deve anular as provas fornecidas pela
Odebrecht e pelos marqueteiros da campanha.
A manobra foi liderada pelo presidente do TSE, Gilmar
Mendes. Ele teve o apoio de Napoleão Nunes Maia, Admar Gonzaga e Tarcísio
Vieira. Os dois últimos foram nomeados por Temer às vésperas do julgamento.
Nesta quinta, os ministros tiveram que se esforçar para
justificar a pirueta. Vieira reconheceu que as descobertas da investigação
"assombram qualquer pessoa de bem", mas alegou razões técnicas para
ignorá-las. "Na minha compreensão, o caixa dois não está em
julgamento", disse.
Gilmar atacou o Ministério Público, citou o julgamento de
Cristo e pediu que os colegas controlassem o que chamou de "sanha
cassadora". "Por questões pequenas, acabamos cassando mandatos",
criticou.
O ministro pensava de outra forma quando o alvo do processo
era Dilma Rousseff. Em 2015, ele defendeu o uso de provas da Lava Jato na
investigação. "Não podemos permitir que o país se transforme em um
sindicato de ladrões", disse. Hoje ele frequenta os jantares do Jaburu e
viaja de carona no avião presidencial.
Entre as "questões pequenas" que o TSE vai
ignorar, está a acusação de que a Odebrecht pagou R$ 150 milhões em caixa dois
à chapa Dilma-Temer. A confissão de João Santana, que admitiu ter recebido
parte do dinheiro, também será descartada.
O relator Herman Benjamin, que conduz o caso com
independência, falou em "provas oceânicas" ao defender a cassação da chapa.
O ministro Luiz Fux também protestou contra a tentativa de fingir que a Lava
Jato não existe. Ao perceber o risco de desmoralização do TSE, ele avisou:
"Nós somos uma corte. Avestruz é que enfia a cabeça no chão". Apesar
do alerta, o tribunal deve se curvar ao governo e salvar Temer por 4 a 3 (Folha
de S.Paulo, 9/6/17)
Comentários