Sobe para 23 o número de vítimas do naufrágio em Porto de Moz

As equipes de busca que trabalham na localização dos desaparecidos no naufrágio da embarcação Capitão Ribeiro encontraram, na manhã desta sexta-feira, 25, mais dois corpos, de duas crianças. Segundo as primeiras informações, elas estavam no porão do barco e foram localizadas no momento em que foram retiradas as mercadorias estocadas no local.

Os corpos, de uma menina de oito a 10 anos de idade, e de um menino, de um a três anos, foram levados para o município de Porto de Moz, onde está concentrada a estrutura montada pelo governo do Estado e onde será realizada a perícia médica. Com isso, chegam a 23 óbitos, 27 sobreviventes e dois desaparecidos, os números do acidente que abalou o Pará. As buscas continuarão até que sejam localizadas todas as vítimas do naufrágio, que aconteceu na noite de terça-feira, 22.

Também continuam as investigações sobre o acidente e a acolhida às famílias das vítimas do naufrágio. Segundo o secretário adjunto de Segurança Pública e Defesa Social, André Cunha, 24 horas após o acidente as buscas passaram a se concentrar na superfície, mobilizando homens do Corpo de Bombeiros Militar e o apoio aéreo.

“Vamos estabelecer um quadrante de buscas a partir da direção e da velocidade da corrente predominante nesta área do Rio Xingu”, explicou o secretário. “Dez corpos já foram periciados e liberados para o sepultamento”, informou André Cunha. Também há 16 pessoas reclamadas por familiares, que procuraram a estrutura de segurança pública. “Somando reclamados com sobreviventes e mortos, temos um total de 49 pessoas”, detalhou o secretário adjunto da Segup.

Esse número, segundo ele, bate com o número de redes encontradas na embarcação e com a quantidade de refeições que estavam sendo servidas aos passageiros. “O governo do Estado vem atuando em várias frentes, entre elas o socorro às vítimas, a investigação do fato, realizada pela Polícia Civil, a frente de identificação a cargo do CPC (Centro de Perícias Científicas) Renato Chaves, uma frente de Comunicação Social, da Secretaria de Estado de Comunicação (Secom), e a frente de busca realizada pelo Corpo de Bombeiros”, explicou.

Atendimento humanizado

A secretária de Estado de Trabalho, Emprego e Renda, Ana Cunha, disse que o trabalho realizado pelas equipes do Estado nesta quinta-feira esteve em perfeita sintonia com o município. “Demos apoio total a todas as famílias em um momento em que elas se encontravam altamente fragilizadas. Todo o trabalho foi realizado com o objetivo de reduzir o tempo de um momento tão traumático para estas pessoas”, ressaltou Ana Cunha.

A secretária informou que todo o atendimento foi realizado para tentar diminuir a dor dos familiares. “Foi garantido um enterro digno para as vítimas, com muita solidariedade, um espaço com enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais, medicamentos e alimentos para as famílias, já que muitas vieram da zona rural do município”, acrescentou.

Luto

Com uma população de aproximadamente 38 mil habitantes, Porto de Moz está tendo que conviver com a dor e a saudade das vítimas do naufrágio da embarcação Capitão Ribeiro, ocorrido por volta das 22h da terça-feira (22). Na manhã desta quinta-feira, sete corpos foram velados na quadra da Escola Dom Pedro I. O cortejo fúnebre reuniu mais de 5 mil pessoas pelas ruas da sede municipal. Enquanto as primeiras vítimas encontradas eram levadas para sepultamento, mais corpos chegavam ao Porto Hidroviário, diante do olhar comovido dos moradores.

“Eu falei com ele pela última vez por volta das 17h, momentos antes dele embarcar”, contou a pescadora Belaia Pereira, 26 anos, que havia acabado de reconhecer o corpo do irmão, Leomir Pereira, 29 anos, levado por mergulhadores do Corpo de Bombeiros Militar. Ele morreu junto com a filha, Letícia Pereira, de 4 anos. Leomir saiu de Porto de Moz com destino a Vitória de Xingu para fazer exames médicos.

O microscopista Damião Romano, 50 anos, perdeu a filha Neiva Romano, 18 anos, velada no culto ecumênico, ao lado de outras seis vítimas. “Antes de viajar ela passou na minha casa, para tomar a bênção. Ela me abraçou e me beijou, e disse que me amava. Eu falei que pedia a Deus pra que ela retornasse bem. Infelizmente, prevaleceu a vontade Dele, e não a minha”, lamentou.

No meio do cortejo, o comerciante Getúlio Xavier, 53 anos, que viajaria na mesma embarcação com o filho Lucas Caíque, 23 anos, agradeceu a Deus por ter poupado sua vida e de seu filho, em meio à tristeza pela morte de muitos amigos. “Meu filho tinha que fazer um tratamento em Altamira, mas felizmente faltaram uns documentos e nós cancelamos a viagem”, contou.

A embarcação Capitão Ribeiro, com capacidade para 95 passageiros, passava por Porto de Moz toda terça-feira, com destino a Vitória do Xingu. A 25 milhas de distância, entre os municípios de Porto de Moz e Senador José Porfírio, a embarcação naufragou. “A cidade está coberta de luto”, declarou o prefeito de Porto de Moz, Rosibergue Torres Campos, que decretou luto oficial e participa das buscas às vítimas. “Toda a região está chocada e solidária. Nossa missão, agora, é trazer estes corpos para as famílias poderem se despedir”, disse o prefeito.

Gabinete de crise

O Corpo de Bombeiros e a Defesa Civil estadual coordenam as ações de busca, salvamento e atendimento social na sede da Câmara Municipal de Porto de Moz, onde foi instalado um gabinete de crise, com a presença das forças de segurança estaduais, Executivo Municipal e demais órgãos envolvidos na operação de resgate às vítimas.

A identificação dos mortos está sendo feita no ginásio municipal Chico Cruz. Uma equipe de oito profissionais - entre peritos, médico e auxiliares - do Centro de Perícias Científicas “Renato Chaves” de Belém e Altamira, é responsável pelo trabalho. Com o apoio da Prefeitura de Porto de Moz foi montado um atendimento padrão para “desastres em massa”.

Os mortos já identificados são Luciana Pires, 28 anos; Neiva Romano, 18; Maria Duarte, 57; Aurilene Sampaio, 36; Lucivalda Marques Oliveira, 41; Roseane dos Santos Leite, 25; W.L.O., 56, de Santarém; Orismar Miranda, 61, e  S.H.S.S (1 ano), oriundos da cidade de Altamira. O CPC liberou os corpos com a expedição da declaração de óbito para os familiares. O corpo de um homem, conhecido como Sebastião, a décima vítima, ainda aguarda o reconhecimento oficial da família.

“Fizemos entrevistas com os familiares a fim de identificar características das vítimas, para ajudar no reconhecimento. Contudo, a liberação está sendo agilizada”, disse o perito Felipe Sá, coordenador das unidades regionais do Centro de Perícias.

A Secretaria de Estado de Segurança Pública e Defesa Social (Segup) deslocou três aeronaves do Grupamento Aéreo de Segurança Pública (Graesp) para a cidade de Porto de Moz, sendo dois aviões e um helicóptero (EC 145). As equipes enviadas são compostas por mergulhadores do Corpo de Bombeiros, integrantes dos Grupamentos Aéreo e Fluvial (GFlu), além de peritos e representantes da Defesa Civil estadual e municipal. Uma balsa e embarcações da Prefeitura de Porto Moz, além de lanchas do Corpo de Bombeiros, estão sendo utilizadas na operação.

A Segup também oferece aos familiares dos desaparecidos o número da sala de situação montada em Porto de Moz - (093) 3793-1504

* Com a colaboração de Sérgio Chêne

Por Márcio Flex

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