Atirar para matar e perguntar depois



*Alailson Muniz
Morto fala? Pergunta imbecil, claro que não! Então, porque mataram Jean para somente depois perguntar se ele era terrorista? Foi essa tática usada pela polícia inglesa que matou o brasileiro Jean Charles de Menezes em Londres. Só que a polícia esqueceu que mortos não falam. Não dá para perguntar para um cadáver se ele é terrorista.
Jean foi vítima de uma política belico-militar que luta contra um inimigo invisível que ela mesmo criou, o terrorismo. Esse Estado-polícia que se tornou a Inglaterra tem seu principal embrião no apoio que foi dado a invasão do Iraque. Mas quanto vale a vida de um nacional de país subdesenvolvido? Vale um pedido de desculpas e nada mais. Foi o que o chefe de policia inglesa e o primeiro ministro Tony Blair deram ao embaixador brasileiro Celso Amorim. Disseram ainda também, que se caso acontecesse de novo diante das mesmas circunstância, a polícia o mataria de novo.
Jean morreu em nome da Paz? Sua vida foi doada à campanha de combate ao terrorismo idealizada por Bush? Certamente se fosse um nacional de qualquer país desenvolvido, como da própria Inglaterra, a história seria diferente e não acabaria com um simples pedido de desculpas. Pois, nós nos distinguimos deles por um adjetivo muito forte, o patriotismo. Tão forte entre eles que chegam a esbarrar na xenofobia.
Historicamente, sempre fomos dominados por uma elite subserviente ao prazeres das fortunas internacionais em troca de verdadeiras migalhas. A nossa Forças Armadas, que era para ser a instituição mais patriota do país, massacrou sua própria gente ordenada pela elite estrangeira na época da Ditadura Militar. Um exemplo recente disso é a entrada de uma multinacional em nossa Amazônia, prometendo um investimento que diz ser de um bilhão de reais e na verdade não passa de poucos mais de trezentos milhões gastos na região. Sabem quanto ela irá lucrar, mais ou menos quarenta bilhões de reais. Em qualquer país capitalista civilizado não se permitiria um lucro tão grande em troca de tão pouco investimento. Essa mesma elite que lambe os beiços diante desse fato, não tem se quer coragem, dignidade e caráter para questionar a cruel morte de um brasileiro trabalhador que foi expurgado pelo sistema e obrigado a mendigar nos ideais pregados pelas novelas das oito.
Jean foi cruelmente assassinado com cinco tiros na cabeça, todos a queima roupa e ainda pelas costas. Existe morte mais covarde e indefesa do que essa? Sim, a morte do direito de integração entre os povos, a morte dos direitos humanos, a morte do patriotismo, do orgulho de ser brasileiro.
Tenho a mais esplêndida certeza de que esse fato não vai ser explorado pela mídia em sua tão sublime importância que é para o povo brasileiro. Ele tem um significado especial que os intelectuais orgânicos mídiacos certamente não atentaram, pois também imploram pelas migalhas das elites internacionais. São os mesmos responsáveis pelo doutrinamento econômico capitalista do povo, alicerçado no medo de termos uma nação independe ou de morremos por nossa pátria e não por uma guerra que não é nossa.
A morte de Jean não acabará com o terrorismo, assim como as milhares de mortes que estão acontecendo nesse momento em nome da Paz. A mesma Paz feita com guerra que é usada para justificar o assassinato de Jean e outros milhares de Jeans que viram a existir. E eles é quem são os civilizados.
* Estudante do Curso de Direito da UFPA e repórter do JSBA

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