Das Oligarquias ao mensalão

Professor e Filósofo Roberto Romano identifica a origem da crise política e projeta suas consequências.
Adapatado do Jornal da Unicamp, edição de julho.

O olhar sobre o passado, porém, está longe de ser um endosso ao governo Lula, que foi eleito ancorado em promessas de mudança. Entre aquelas não-cumpridas e exemplos de inércia destacam-se: política econômica equivocada, falta de projetos na área social, o esfacelamento da base política e as alianças suspeitas – e conseqüentemente as sucessivas trombadas com o chamado "patrimônio ético" do Partido dos Trabalhadores. Para ele, o estrago na imagem de Lula e do PT é fato consumado. E o que resta? Pouco tempo para torná-lo reversível.
Jornal da Unicamp - Apesar da crise institucional instalada, o governo e as instâncias reguladoras da economia do Terceiro Mundo seguem afirmando que a economia brasileira vai bem. Até que ponto essas duas variáveis (a política e a econômica) podem se desenrolar em separado? A sociedade brasileira amadureceu a ponto de separá-las?
Roberto Romano – Tratando-se de ordem institucional, cedo ou tarde a economia recebe os impactos das urgências políticas. Nenhuma sociedade "amadurece" ao ponto de separar o político e o econômico. Se fraturas ocorrem num ou noutro desses aspectos que integram a mesma vida social, oscila o sistema no seu todo, evidenciam-se descontinuidades etc. País instável politicamente e onde as regras jurídicas, fiscais, etc. deixam de ostentar ampla legitimidade, dificilmente será próspero em longo termo. Se a crise política torna-se aguda, os capitais especulativos temem e buscam outros países (a famosa "volatilidade") e os capitais dirigidos à integração mais profunda na economia não se apresentam, porque seus controladores percebem que os investimentos correrão riscos devidos à insegurança das regras e sobre quem asseguraria a aplicação das mesmas regras. Países avançados em termos econômicos e políticos, como os EUA e os que integram a oscilante União Européia, mostram que os fatos de uma ordem repercutem na outra, e vice-versa. As sucessivas administrações norte-americanas vivem o desafio perene de harmonizar o desenvolvimento econômico – sobretudo no relativo aos resultantes emprego ou desemprego – e as agendas políticas. Elementos econômicos ajudam a entravar agendas políticas. O resultado negativo do referendo francês e holandês, para a aprovação da Carta Européia, mostra a interdependência dos segmentos políticos e econômicos. No Brasil não é diferente e, na verdade, é pior: dado que a corrupção manifesta um desequilíbrio na estrutura federativa e nas relações permanentes entre os poderes, a política econômica será refém das crises políticas que, muito rápido, seguem a via do colapso da autoridade pública.

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