*Por Estemir Vilhena da Silva
Em meu livro, publicado em 1996, “Memórias de um ex-Árbitro de Futebol”, fiz referência ao Balão, que foi um excelente jogador de futebol, ocasião em que o entrevistei. Já o conhecia de há muito, mas agora faço questão de reiterar uma dentre suas características principais, formada por forte personalidade. Inclusive, este aspecto em nada contribuiu para que a sua carreira futebolística tivesse sequência em centros maiores. Como jogador de futebol, o conheci já quase no ocaso de sua brilhante carreira, lá pelos fins da década de 40, mas depois tornamo-nos muito amigos. Era um homem que se vestia invariavelmente bem; só saía à rua de paletó e gravata. Era, por assim dizer, um dândi.
No início de 1950, quando já era visível o seu declínio como jogador de futebol, o seu time, o São Francisco, jogava uma partida amistosa contra o América Futebol Clube, um time recém fundado, que de idade tinha menos de quatro anos. No primeiro tempo do jogo o placar acusava três para o América e zero para o São Francisco. Balão chegou no intervalo e perguntou quanto estava o jogo. Informado, tirou a sua indumentária e pediu calção, camisa e chuteiras e entrou no segundo tempo. O final acusava o escore de três a três. Balão havia feito os três gols que deixou o jogo empatado.
Ele era assim. No vestiário, traçava os rumos que o jogo havia de tomar, embora a previsão nem sempre se realizasse, mas fazia questão de que todos procurassem assimilar suas instruções. Naquele tempo não havia os técnicos de futebol de hoje; “os professores”, que tudo sabem, ainda não faziam parte do esporte futebolístico pelo menos em Santarém. Hoje, é muito diferente; há técnicos que mandam ou querem mandar em tudo, alguns têm pouco respeito pelos diretores, e muitas vezes, ganham até três vezes mais que o salário do melhor jogador do clube. No tempo do Balão era tudo diferente, desde a bola, que era feita de couro, mas com uma abertura para que se pudesse introduzir a câmara que, depois de cheia, fechava-se abertura com uma tira também de couro. Não havia a preocupação com o peso dela; quando chovia; ela, que deveria ter menos de 400g, encharcada, já apresentava um peso superior a mais de um quilo. A verdade é que o carisma do Balão era tanto que os jogadores mais jovens tratavam-no, respeitosamente, por “seo” Balão. Quando o São Francisco perdia que agüentassem sua bronca.
No mesmo livro “Memórias...” apresentei o jogador de futebol do chute mais forte de todos os tempos. Chama-se João Batista Guimarães e era conhecido como Cecebuta. De compleição forte, fortíssimo, enfim, uma massa muscular invejável. Mas o que mais impressionava nele era o seu chute, geralmente de bico; fechava os olhos, buscava uma distância de cinco metros, mais ou menos e desferia o seu terrível míssil que goleiro que se atrevesse a defender acabava mal. Numa excursão que o Clube de Regatas Flamengo, em 1950, fizera ao norte e jogara uma partida amistosa, nesta cidade, o goleiro do rubro-negro provou o chute do Cecebuta num pênalti batido por ele, que chegou a levantar a parte traseira da rede a uma considerável altura. Ele, o rei do chute forte, e o Balão jogavam no mesmo time.
Certo dia foi o São Francisco jogar na cidade de Óbidos. O campo de futebol, daquela cidade, foi feito pelos recrutas, quando lá havia um destacamento do Exército. Justamente por ficar em frente ao quartel, suas dimensões eram as mínimas permitidas pela FIFA: 90m x 45m. No primeiro tempo, o jogo terminou zero a zero. No entendimento dos jogadores, o placar era injusto, pois pelo volume do jogo que o São Francisco apresentou, e a inferioridade marcante do adversário, deveria estar uns quatro ou cinco a zero. No segundo, como invariavelmente fazia sempre, Balão reuniu os jogadores e disse: “Vocês estão vendo que o campo é pequeno, daí o equilíbrio que o jogo apresenta. Prestem atenção nesta tática! Cecebuta, que tem o chute mais forte, vai fazer com que a bola chegue à área do adversário. De preferência perto do goleiro; eu estarei lá para empurrar a bola para dentro do gol. Chamou o Cecebuta e recomendou: Faz isso no tiro de meta, em que não há impedimento, e vocês vão ver como se ganha o jogo”.
Logo que começou o segundo tempo, no primeiro tiro de meta, Balão chegou-se a ele e o alertou: “É agora”. Cecebuta colocou a bola na marca e o Balão preparou-se para chegar à área contrária; preparou-se porque só teve tempo de sair da sua grande área. Recebeu um tremendo impacto na nuca e caiu duro! Corre daqui, corre dali, acudam o homem e outras providências, mas a verdade é que o Balão só foi acordar em Santarém, no dia seguinte, querendo tirar a pele do Cecebuta.
*Estemir Vilhena da Silva É professor e escritor. Vai publicar em breve o livro “Roteiros de uma vida”.
Em meu livro, publicado em 1996, “Memórias de um ex-Árbitro de Futebol”, fiz referência ao Balão, que foi um excelente jogador de futebol, ocasião em que o entrevistei. Já o conhecia de há muito, mas agora faço questão de reiterar uma dentre suas características principais, formada por forte personalidade. Inclusive, este aspecto em nada contribuiu para que a sua carreira futebolística tivesse sequência em centros maiores. Como jogador de futebol, o conheci já quase no ocaso de sua brilhante carreira, lá pelos fins da década de 40, mas depois tornamo-nos muito amigos. Era um homem que se vestia invariavelmente bem; só saía à rua de paletó e gravata. Era, por assim dizer, um dândi.
No início de 1950, quando já era visível o seu declínio como jogador de futebol, o seu time, o São Francisco, jogava uma partida amistosa contra o América Futebol Clube, um time recém fundado, que de idade tinha menos de quatro anos. No primeiro tempo do jogo o placar acusava três para o América e zero para o São Francisco. Balão chegou no intervalo e perguntou quanto estava o jogo. Informado, tirou a sua indumentária e pediu calção, camisa e chuteiras e entrou no segundo tempo. O final acusava o escore de três a três. Balão havia feito os três gols que deixou o jogo empatado.
Ele era assim. No vestiário, traçava os rumos que o jogo havia de tomar, embora a previsão nem sempre se realizasse, mas fazia questão de que todos procurassem assimilar suas instruções. Naquele tempo não havia os técnicos de futebol de hoje; “os professores”, que tudo sabem, ainda não faziam parte do esporte futebolístico pelo menos em Santarém. Hoje, é muito diferente; há técnicos que mandam ou querem mandar em tudo, alguns têm pouco respeito pelos diretores, e muitas vezes, ganham até três vezes mais que o salário do melhor jogador do clube. No tempo do Balão era tudo diferente, desde a bola, que era feita de couro, mas com uma abertura para que se pudesse introduzir a câmara que, depois de cheia, fechava-se abertura com uma tira também de couro. Não havia a preocupação com o peso dela; quando chovia; ela, que deveria ter menos de 400g, encharcada, já apresentava um peso superior a mais de um quilo. A verdade é que o carisma do Balão era tanto que os jogadores mais jovens tratavam-no, respeitosamente, por “seo” Balão. Quando o São Francisco perdia que agüentassem sua bronca.
No mesmo livro “Memórias...” apresentei o jogador de futebol do chute mais forte de todos os tempos. Chama-se João Batista Guimarães e era conhecido como Cecebuta. De compleição forte, fortíssimo, enfim, uma massa muscular invejável. Mas o que mais impressionava nele era o seu chute, geralmente de bico; fechava os olhos, buscava uma distância de cinco metros, mais ou menos e desferia o seu terrível míssil que goleiro que se atrevesse a defender acabava mal. Numa excursão que o Clube de Regatas Flamengo, em 1950, fizera ao norte e jogara uma partida amistosa, nesta cidade, o goleiro do rubro-negro provou o chute do Cecebuta num pênalti batido por ele, que chegou a levantar a parte traseira da rede a uma considerável altura. Ele, o rei do chute forte, e o Balão jogavam no mesmo time.
Certo dia foi o São Francisco jogar na cidade de Óbidos. O campo de futebol, daquela cidade, foi feito pelos recrutas, quando lá havia um destacamento do Exército. Justamente por ficar em frente ao quartel, suas dimensões eram as mínimas permitidas pela FIFA: 90m x 45m. No primeiro tempo, o jogo terminou zero a zero. No entendimento dos jogadores, o placar era injusto, pois pelo volume do jogo que o São Francisco apresentou, e a inferioridade marcante do adversário, deveria estar uns quatro ou cinco a zero. No segundo, como invariavelmente fazia sempre, Balão reuniu os jogadores e disse: “Vocês estão vendo que o campo é pequeno, daí o equilíbrio que o jogo apresenta. Prestem atenção nesta tática! Cecebuta, que tem o chute mais forte, vai fazer com que a bola chegue à área do adversário. De preferência perto do goleiro; eu estarei lá para empurrar a bola para dentro do gol. Chamou o Cecebuta e recomendou: Faz isso no tiro de meta, em que não há impedimento, e vocês vão ver como se ganha o jogo”.
Logo que começou o segundo tempo, no primeiro tiro de meta, Balão chegou-se a ele e o alertou: “É agora”. Cecebuta colocou a bola na marca e o Balão preparou-se para chegar à área contrária; preparou-se porque só teve tempo de sair da sua grande área. Recebeu um tremendo impacto na nuca e caiu duro! Corre daqui, corre dali, acudam o homem e outras providências, mas a verdade é que o Balão só foi acordar em Santarém, no dia seguinte, querendo tirar a pele do Cecebuta.
*Estemir Vilhena da Silva É professor e escritor. Vai publicar em breve o livro “Roteiros de uma vida”.
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