Pará realiza primeiro transplante de fígado da Região Norte

Da Agência Pará:
Roberta Vilanova / SESPA
Paulo Soares, coordenador da equipe de transplante do HPD, informou que
no Pará existem pelo menos 100 pacientes que precisam passar pela cirurgia

Agência Pará de Notícias
Atualizado em 29/09/2013 às 15:41

Foi realizado, na madrugada de sábado, 28, no Hospital Porto Dias (HPD), o primeiro transplante de fígado do estado do Pará e Região Norte, um momento histórico para a medicina paraense, que até então só realizava transplante de córnea e rim. O beneficiado foi um jovem de 20 anos, morador de Tucuruí, que sofria com doença hepática crônica desde 2007 e recebeu o órgão de um jovem de 22 anos, vítima de acidente de motocicleta do município de Santarém.
A doação aconteceu coincidentemente no dia 27 de setembro, data em que se comemora o Dia Nacional de Doação de Órgãos. Nesse mesmo dia, uma equipe de cirurgiões de Belém embarcou rumo a Santarém para captar o órgão, que chegou à capital paraense no início da madrugada de sábado direto para a sala de cirurgia, onde o paciente receptor já aguardava para recebê-lo.


Em entrevista coletiva, na manhã deste domingo, 29, no auditório do HPD, a coordenadora da Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos (CNCDO), Ana Cristina Beltrão; o coordenador da equipe de cirurgia de transplante de fígado do HPD, Paulo Soares; o chefe da UTI, Augusto César Santana; e o cirurgião Luiz Nazareno Moura falaram sobre o procedimento e o que representa esse avanço para a população.
De acordo com Ana Beltrão, o HPD foi credenciado pelo Ministério da Saúde para realizar transplantes de fígado e coração, “portanto esse primeiro transplante significa o início do acesso da população a um tratamento altamente especializado e gratuito por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), viabilizado por uma parceria público-privada entre a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa) e o Hospital Porto Dias”.
“Queremos que a população acredite que a medicina existe para melhorar a qualidade de vida e saúde das pessoas, mas para que haja transplantes é necessário que haja doadores de órgãos, por isso é importante que cada um de nós comunique à família que concorda em ser um doador”, alertou a Ana Beltrão. Segundo ela, “este é um momento histórico que precisa ser guardado na nossa memória. O próximo passo será a implantação do transplante de coração, que ocorrerá nos próximos meses”.
O cirurgião e coordenador da equipe que fez o transplante, Paulo Soares, informou que há oito anos a equipe médica vinha se preparando para esse momento. E relatou que a cirurgia teve duração de dez horas, contando com a participação de cinco cirurgiões, um intensivista e um hepatologista - na verdade uma equipe multidisciplinar - totalizando 12 pessoas. “O paciente está evoluindo satisfatoriamente, mas as primeiras horas após o transplante são fundamentais para evitar complicações, por isso ele permanece o tempo todo monitorado”, explicou o médico.
Paulo Soares lembrou que o Brasil tem o maior programa público de transplantes do mundo e é o segundo país que mais realiza esse procedimento, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, incluindo transplante com órgãos de falecidos e intervivos. "Porém, no que se refere ao transplante de fígado, aqui no Pará a prioridade é utilizar órgão de doador falecido, para evitar colocar um doador vivo em risco, o que não significa que esse procedimento não será feito futuramente", explicou.
Sobre a fila de espera por um fígado no Pará, Soares explicou que ela está sendo formada agora, porque até então todos os pacientes que precisavam de transplante de fígado tinham que ir para outros estados, como o Ceará. No entanto, no Pará, os médicos da área sabem da existência de 100 pacientes que precisam de transplante de fígado, porque nem todos têm condições de se deslocar para outros estados.
Por outro lado, o Pará sempre foi um captador de fígado e desde 2004 mais de 130 órgãos foram captados pelo Hospital Ophir Loyola (HOL) e disponibilizados à Central Nacional de Transplantes (CNT). O médico cirurgião informou, ainda, que conforme a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 20 pessoas por cada grupo de um milhão de habitantes precisam de transplante em todo o mundo anualmente, daí a importância da doação de órgãos.
Ainda segundo Paulo Soares, para estabilizar o programa de translantes no Estado há necessidade de se aumentar a doação de órgãos, "por isso a população precisa se conscientizar que a doação é um procedimento seguro e bem feito. Está faltando a cultura da doação e para isso é fundamental o apoio da mídia, porque sem doação não há transplante”, afirmou. Na Amazônia, as principais causas que levam à necessidade de transplante hepático são as hepatites B e C. “O custo de uma doença hepática crônica é mais alto do que um transplante, e o transplante é a única forma de reverter esse quadro”, assegurou o médico.
Na opinião do chefe da UTI, Augusto César Santana, a medicina paraense está dividida entre antes e depois do primeiro transplantes de fígado. “É uma satisfação enorme vivenciarmos este momento ímpar”, comemorou. Sobre o paciente, Santana disse que ele está lúcido “mas ainda tem uma árdua batalha pela frente”.
O cirurgião hepatologista Luiz Nazareno Moura esclareceu que no Brasil, a morte encefálica é constatada por meio de dois exames clínicos e um exame de imagem, que comprovam a completa e irreversível parada de todas as funções do cérebro.
Estatística – Este ano, o Pará realizou 155 transplantes de córnea e 29 de rim, mas há 580 pacientes na fila de espera por uma córnea e 904 por um rim. Para ser doador de órgão, basta que o indivíduo declare essa vontade e comunique a sua família.
Serviço: A Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos (CNCDO) funciona no Nível Central da Sespa. Informações: (91) 4006-4284

Texto:
Roberta Vilanova - Sespa
Fone: (91) 4006-4822 / 4823 / (91) 8116-7719
Email: ascomsespa@gmail.com / robertavilanova@globo.com

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